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Inglês de colunista by Jerry T. Mill

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“Ninguém pode negar que o colunismo (social) na imprensa brasileira é uma especialidade imprescindível nos tempos atuais.” -Ibrahim Sued* (1924-1995)

Apesar de toda a evidente evolução e revolução social, cultural e tecnológica que tomou conta do mundo moderno nas últimas décadas, algumas coisas continuam (mais ou menos) as mesmas. Uma delas é o debate sobre a (relativa) importância ou insignificância dos e das colunistas sociais, seja na imprensa mainstream ou underground.

Well, para quem não sabe, a palavra ‘colunista’ vem do substantivo ‘coluna’, aqui entendida como uma seção numa publicação impressa ou virtual que é veiculada com certa regularidade (geralmente semanal) – e, portanto, não se refere às vértebras do corpo ou aos pilares de uma casa, por exemplo. Para variar, o termo vem do inglês jornalístico ‘columnist’, advindo de ‘column’, que por sua vez tem sua origem na forma latina ‘columna’, cujo significado é ‘pico’ ou ‘ponto mais alto’.

Embora tenhamos diversos tipos de colunistas no Brasil e no mundo (como os esportivos, gastronômicos, de aconselhamento, de negócios, etc.), a palavra em si é, na maioria das vezes, entendida pelo grande público como ‘colunista social’, ou seja, aquela pessoa que se dedica a mostrar quem ou o que é destaque na cidade, no estado, no país e até no mundo, dependendo do alcance do veículo de comunicação e suas prioridades. Em inglês, usa-se a expressão ‘gossip columnist’, que, numa tradução literal, nada mais é que o/a ‘colunista de fofoca’. Confira no Google Translator!

Isso não deixa de fazer sentido já que, desde os seus primórdios, mesmo antes da Imprensa propriamente dita (e escrita), o colunismo social já tinha como um dos seus motes principais os rumores, as festas, as viagens, as relações amorosas, etc. Não é por outro motivo, pois, que a coluna social (embora muita gente jure de pés juntos que não se interessa por ela) é uma das seções mais vistas nas publicações impressas, no rádio, na televisão ou na internet. Prova disso é que revistas e programas de rádio/TV sobre fofocas continuam a fazer (enorme) sucesso até hoje.

No entanto, no campo da linguagem, muitos são os deslizes cometidos por colunistas sociais que nem sempre fazem o dever de casa. Quer dizer, cultivar e respeitar a língua portuguesa e observar a ortografia e a pronúncia de palavras estrangeiras (do inglês, do francês e do italiano, por exemplo), caso ele ou ela decida “dar um up” nas suas publicações habituais ou postagens nas redes sociais.

No caso específico da língua inglesa, os colunistas norte-americanos exerceram enorme influência no estilo e no vocabulário adotados pelos primeiros cronistas/colunistas brasileiros, e fizeram escola entre nós. Vem daí essa nossa mania de dizer jet set** e high society, prestigiar concurso de miss e mister, promover baile de debutante, cobrir evento de moda ou inaugurações e estimular o apoio a alguma entidade de cunho social. Algo tão originalmente brasileiro quanto o hot dog, o milk shake e as fake news.

Como educador e pesquisador, eu percebo que, de forma recorrente, há excessos no estilo adotado para redigir as notas e diagramar as fotos publicadas em algumas colunas sociais. Para mim, no entanto, o maior desafio do colunismo social moderno foi, é e sempre será saber lidar com os limites da ética, da estética, do interessante, do ridículo e da inovação. Ter os olhos e os ouvidos atentos para as novidades, a fim de realmente ir além da mera cópia ou da repetição.

Afinal, o que se faz hoje é, de certa forma, o que Walter Winchell, Louella Parsons, Zózimo Barroso do Amaral, Amaury Júnior, Lassimi, Iracema Peixoto e tantos outros já fizeram antes. Cada um do seu jeito e com os recursos existentes na época. Servindo de modelo ou inspiração para aqueles e aquelas ‘colunistas de fofoca’ que estão em ação atualmente. Para o deleite de alguns leitores, e o descontentamento de outros.

* Considerado o pai do colunismo social brasileiro.

** Criado pelo russo-americano Igor Cassini Loiewski (1915-2002), refere-se à alta roda internacional, ou privilegiados que podiam viajar de avião a jato com certa frequência.

JERRY T. MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis

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