Discreto, simples, visionário e amigo de boa conversa, Áureo Candido Costa se tornou ao longo dos anos uma das principais referências para o desenvolvimento de Rondonópolis. Além de ter doado terrenos e áreas para expressivo número de órgãos, entidades e iniciativas, também foi um dos articuladores dos grandes marcos imobiliários e de compras do município.
Essa história de sucesso começou a ser escrita em 26 de março de 1938, quando em ele nasceu na cidade de Guiratinga, vizinha a Rondonópolis. Lá ele viveu até os 12 anos, de onde partiu para a cidade goiana de Rio Verde, para fazer o antigo Ginásio, e, na sequência, para a capital Goiânia, a fim de fazer o exame de admissão, processo como se fosse o vestibular. Nesse intervalo, os pais também se mudaram para Goiânia.
Quem vê a trajetória bem-sucedida construída em Rondonópolis, acha que tudo em sua vida foram mil maravilhas. Mas não foi bem assim. Também teve decepções, sendo uma dessas bem no começo da vida, quando foi prestar vestibular para Direito, na época ainda com prova oral. Ele lembra que o processo ficou a cargo de um professor muito exigente, que lhe pediu para falar sobre a biografia de certo escritor famoso. Na véspera, Áureo tinha estudado tudo sobre o referido autor, mas, na hora da prova, deu um branco que a língua travou e não conseguiu falar nada. Não sabia por onde começar.
“Tinha muitos estudantes no salão nobre, e ele disse: – Estão vendo, alunos, o que acontece no ensino brasileiro? É isso! Um rapaz vem prestar vestibular de Direito e nunca leu um livro de um autor brasileiro! Isso não pode ocorrer! Quando virem para cá, busquem ler e estudar! Quanto mais ele falava, mais minha orelha pegava fogo. Ele terminou e me despediu . Eu baixei minha cabeça e marquei um rumo no salão, fui embora e nunca mais voltei na faculdade, nem para pegar meus documentos, pois fiquei com muita vergonha”, testemunha.
Se a vida perdeu um advogado, por outro lado ganhou um grande investidor imobiliário – façanha essa que começou a ser escrita ainda em Goiânia, onde arrumou emprego em uma imobiliária dos pioneiros goianienses Coimbra Bueno, fundadores da capital. Primeiro atuava no setor administrativo e, nos finais de semana, também começou a vender lotes. Iniciou trabalhando para outro corretor de imóveis e ganhava uma comissão sobre as vendas.
O primeiro escritório era tão simples que funcionava onde antes era um pequeno açougue, com porta de ferro de correr e mesa de tábuas. “No primeiro dia, eu vendi 60 lotes. Podia trabalhar dez anos e não ia conseguir ganho equivalente. Empolguei! Nessa história de vendedor, vendi muito!”, conta. Em Goiânia, morou por oito anos e também se formou em técnico de Contabilidade. Ficou por lá até receber uma proposta do primo William Morais, que residia em Rondonópolis.
William tinha um loteamento parado em Rondonópolis, a atual Vila Aurora, não tinha experiência na área e o chamou para abrir a venda do empreendimento. Áureo aceitou o desafio desde que na condição de sócio e, assim, chegou em Rondonópolis em 7 de julho de 1963. Sem meios de comunicação, se valeu da criatividade para divulgar o empreendimento. “Coloquei um cartaz escrito assim: – V.A. O que será? Aguardem! Peguei a meninada e pedi para colocar nas casas e pregar nos postes. No dia do lançamento, revelei: V.A. = Vila Aurora, o bairro nobre da cidade!”, recorda.
As dificuldades eram muitas, porque não tinha uma ponte para fazer a ligação direta com o novo bairro. A única ponte que havia era na região da Vila Jardim, mas a volta era grande. Valia-se de uma pinguela e de uma pequena balsa nesse acesso. A abertura do loteamento não foi com tratores e maquinários, mas com enxadão, machado, picareta e pá, ferramentas para extrair árvores e raízes enormes que existiam na época. A ponte de concreto somente veio quando da construção da estrada rumo a Guiratinga, na Rua Fernando Correia da Costa.
Para valorizar a região, intensificar o povoamento e levar infraestrutura, Áureo foi doando lotes e áreas para órgãos públicos, entidades e iniciativas.
Assim foi com áreas para Prefeitura, Colégio 13 de Junho, antiga Cemat, Rotary, Lions, Loja Maçônica, Receita Federal, Cemitério, Cohab Velha, Sucam, subestação da Eletronorte, entre tantos outros. Hoje perdeu as contas de tantas doações que efetivou. “Cada órgão que se instalava levava mais benefícios e estrutura para região. Com isso, a Vila Aurora foi se desenvolvimento e hoje é uma das regiões mais valorizadas da cidade”, avalia. Ajudou ainda na fundação de entidades como Rondonópolis Clube, Rotary, Lions, Maçonaria.
Além do ramo imobiliário, em Rondonópolis, Áureo teve a oportunidade de ingressar no ramo cartorário. Começou pelo Cartório de 3º Ofício, que estava sob intervenção e tinha destituído a tabeliã. O juiz da época lhe propôs atuar como interventor no local, atuando assim entre 1967 e 1971, quando então fez o concurso de tabelião para os Cartórios do 3º e 4º Ofícios, tendo passado em primeiro lugar para os dois. Optou pelo 4º Ofício e deixou o 3º para um amigo, que havia ficado em segundo lugar. Com o tempo, o serviço do Cartório do 4º Ofício foi se estruturando.
No decorrer do tempo, com o amplo conhecimento e grau de relacionamentos que tinha no Cartório, foi tendo novas oportunidades de negócio. “Se eu visse que o negócio era bom, eu investia”, revela. Assim, participou na construção dos primeiros grandes edifícios residenciais e comerciais de Rondonópolis, no caso o Pirâmide e Mikerinos. Lançou também o maior loteamento do município, sendo o Sagrada Família, com mais de 500 hectares.
Na década de 1990, em parceria com Fábio Fonseca, teve a ideia de lançar o Rondon Plaza Shopping, que foi concluído por João Arcanjo Ribeiro. Depois passou a atuar na área de condomínios fechados em parceria com Fábio Fonseca, sendo o primeiro grande sucesso o Village do Cerrado. Na sequência surgiu o Royal Boulevard e, por último, o Unique Higienópolis, tendo este vendido 620 lotes em um único dia. Também investe na compra de apartamentos e casas de alto padrão.
Na área familiar, ele teve o primeiro casamento em 1965, tendo três filhos: Áureo Junior (médico veterinário), Mauro (engenheiro civil) e Maria Cristina (cirurgiã dentista). A primeira esposa morreu com os filhos ainda pequenos, tendo a missão de cria-los sozinho. Na sequência passou a viver com a atual esposa, Terezinha, que também tinha três filhos. “Os meus filhos a consideram como mãe e os filhos dela me consideram como pai. Ela é uma grande companheira”, afirma.
No tempo de lazer, Áureo tem hábitos de matuto, gosta de pescar, não gosta de ir para praia, e não dispensa uma boa conversa com os amigos e chegados. No dia a dia, costuma ser visto junto aos clientes do Cartório, cumprimentando e atualizando as prosas. “O maior prazer do mundo meu é o convívio com os amigos e os conhecidos. Acho muito linda a convivência que as pessoas buscam ter comigo também”, atesta ele, que não gosta mais de estar em eventos sociais.
Atualmente, uma das suas maiores satisfações é olhar para trás e saber que ajudou no desenvolvimento de Rondonópolis. Ele olha para o futuro e acredita que a cidade ainda vai crescer muito nos próximos dez anos, embora reconheça que a extensão dos trilhos da ferrovia rumo ao norte do estado pode trazer queda de arrecadação ao poder público. Aproveita para externar sua admiração ao A TRIBUNA, veículo que considera ter sido essencial para o desenvolvimento de Rondonópolis. “Meus parabéns ao Samuel, à Naide Neves e a todos do A TRIBUNA”, externa.
Apesar de tantas realizações, o empreendedor ainda tem um sonho a concretizar em Rondonópolis. Almeja instituir uma grande universidade particular na cidade, uma lacuna ainda existente e que mantém como meta, visando oferecer melhores condições financeiras à população, sem perder de vista a qualidade e a ampla quantidade de opções de cursos. “Estou no final da minha vida, mas isso seria para contribuir com o futuro de Rondonópolis. Inclusive, já penso em tirá-la do papel. Tenho muita coragem para isso! Não é só visar lucro, mas de investir, garantir infraestrutura e bons professores para que possa crescer. Tenho fé em Deus que vou realizar isso”, projeta.