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O comércio migrando para os bairros

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Os principais bairros da cidade de Rondonópolis já não são mais o mesmo. Paralelo às suas principais vias, eles têm visto um vasto e forte comércio se consolidar nos últimos anos. E não são apenas pequenas lojas que ocupam esses locais, também são grandes empresas, marcas conhecidas e empresários conceituados que têm apostado cada vez mais nesses locais próximos aos consumidores.

O resultado é que os principais bairros da cidade têm competido com o Centro e mostrado um movimento de público altamente atrativo. Tem sido assim em bairros como a Vila Operária, Vila Aurora, Parque Universitário, Jardim Atlântico, Jardim Participação, Monte Líbano, Vila Rica/Antonio Geraldine, Conjunto São José, Jardim Primavera, Residencial Azaleia/Sagrada Família, Parque São Jorge, entre outros.

Comércio na Vila Aurora: comércio se expande e contempla desde lanchonetes a produtos de decoração

Esse movimento migratório, fortemente percebido em Rondonópolis e cidades maiores como Cuiabá, tem vários fatores envolvidos. Conforme o administrador e economista Wanderlan Barreto da Rosa, professor, consultor, mentor empresarial e coordenador de administração de uma faculdade local, uma das primeiras explicações é que o consumidor mudou. Ele não precisa correr mais para comprar. Dada a concorrência, o consumidor está numa zona confortável, se ele não comprar hoje, atesta que não há motivo para se preocupar, porque sabe que a qualquer dia que comprar vai aproveitar alguma promoção ou uma melhor condição, ou outra novidade.

O especialista também observa que esse processo envolve questões de mobilidade, considerando que a cada dia há menos espaço em nossas ruas e avenidas, especialmente áreas para estacionamento no Centro da cidade. Assim, aponta que o consumidor também faz conta e observa que tem um custo para sair de sua casa e ir até o Centro da cidade para realizar compras. “Chegando ali não encontra estacionamento. Assim o consumidor começa a demonstrar que ele não está disposto a se mover. Ou as empresas vão até ele ou ele vai comprar na internet”, avalia.

Outro fator a ser considerado é o de segurança, pois atualmente as pessoas têm medo, buscam proteção – quanto menos correr riscos melhor. Por isso, as famílias não querem ir mais a bancos e casas comerciais porque há um sentimento de insegurança. Ele também destaca a questão da confiança, que hoje é a moeda mais cara no mundo. Nesse contexto, no bairro as pessoas estão mais próximas, sabem o nome de todo mundo e, se gostam do produto e do serviço, eles indicam e falam da confiança – isto garante fidelidade.

O consumidor não está questionando preço, ele quer ser atendido, quer vivenciar experiências marcantes, quer ter suas necessidades ou demandas satisfeitas na plenitude. Administrador e economista Wanderlan Barreto da Rosa

Wanderlan observa ainda que o ramo imobiliário está avançando para bairros, oferecendo comodidade, conforto, segurança e qualidade de vida para as pessoas. E essas pessoas consomem e desejam consumir no seu bairro, não querem sair muito longe para comprar.
Nesse cenário, argumenta que é natural as empresas, cada vez mais, migrarem para os bairros, justamente porque os empresários começam a fazer leitura do ambiente de negócios e começam a entender que, se não marcar presença no bairro, vão perder, sejam vendas ou competitividade, pois a concorrência é bem maior, e também não conseguem mão-de-obra para trabalhar porque as pessoas precisam se locomover, as vezes até 10 km ou mais, precisam usar veículos muitas vezes arriscados. Nisso, lembra que os indicadores de acidente são alarmantes porque a cidade tem um trânsito bastante confuso, enfim.
Buscando competitividade em relação aos grandes

Não é porque está localizado nos bairros que o comércio deixa de ser competitivo em relação aos grandes varejistas. Essa visão tem sido cada vez mais captada pelos empresários e, principalmente, pelos consumidores. Prova disso é que os grandes varejistas também estão hoje nos bairros, especialmente nas grandes avenidas

Para o professor Wanderlan Barreto da Rosa, a busca por diferenciais competitivos é fundamental, sendo evidente que os comerciantes vão colocar produtos e serviços de acordo com o perfil das populações. Explica que eles estudam o mercado ali no bairro e fazem uma projeção de crescimento. Mas como eles podem se tornar mais competitivos, justamente trabalhando naquelas faixas que os grandes varejistas não oferecem?

“Há uma história surgida de um caso verdadeiro. Conta que num determinado bairro havia um empresário de bicicletas. Dominava as vendas no bairro, campeão de vendas. Um dia iniciou-se um movimento para instalação de um grande varejista que vendia bicicletas, com preços bem menor, com variedades, modelos diferentes, etc. Bateu o horror nesse empresário de menor porte e ele foi buscar ajuda, pois não sabia o que fazer. Foi-lhe aconselhado então, já que venderia bem menos bicicletas, que focasse no conserto de bicicletas e vendas de acessórios e peças, que mudasse o modelo de negócios. Foi o que ele fez! E logo ele estava com faturamento maior do que anteriormente”, pontua.

Nesse sentido, o especialista diz que qualquer empresário precisa perguntar, claramente: quem é seu cliente? O que ele busca? De posse dessas respostas, atesta que é preciso revisar o seu modelo de negócio e, ao mesmo tempo, ter que aceitar mudanças, reinventar e se alinhar ao perfil do consumidor do bairro. Segundo ele, uma coisa está muito clara: vender preço não é diferencial competitivo. “O consumidor não está questionando preço, ele quer ser atendido, quer vivenciar experiências marcantes, quer ter suas necessidades ou demandas satisfeitas na plenitude”, afirma.

Os empresários precisam acrescentar em seus diferenciais competitivos fatores, ações ou práticas no dia a dia verdadeiramente humanizadas. “É tudo que falta no mundo dos negócios. Precisamos parar de focar em elevados índices quantitativos nas vendas em primeiro lugar. O empresário que se fixar nessa prática vai ficar sobrando. O consumidor quer ser visto, quer ser valorizado, quer ser lembrado. Cada negócio, por pequeno que seja, é um centro de experiências comerciais. Isso é fundamental”, garante.

E, para quem está pensando que esse processo de descentralização do comércio, é uma fase ou algo passageiro pode ter prejuízos. Wanderlan acredita que, esse movimento, com certeza, vai se consolidar e, por isso, vai crescer ainda mais, pois é uma tendência, e uma causa para isso são as construções imobiliárias, com grandes condomínios, horizontais e verticais mais distantes do Centro. Nisso, acrescenta-se o desejo das famílias viverem com mais conforto e com segurança, além das escolas que vão sendo implantadas, escritórios, serviços diversos, bem como a valorização dos imóveis nos bairros.

“Este movimento não vai parar. O consumidor está ali, ele não quer andar muito longe para conseguir tudo o ele precisa, desde bens de consumo até prestação de serviços. E para os investidores isso é bom, é garantia de sucesso nos negócios. Ali ele pode ter um espaço menor com menores custos fixos, gasta menos com entregas porque tudo é mais próximo. E no próprio bairro encontra mão-de-obra”, analisa.

Como o comércio de bairro pode se sobressair

01. Conheça o ambiente, converse com os moradores do bairro, e capte o sentimento dessa população;
02. Pergunte: quem é seu cliente, pergunte muitas vezes, várias vezes até você identificar o seu cliente;
03. De posse desses dados, faça o perfil do seu cliente
04. Revise o seu modelo de negócio. Quais produtos você trabalha e quais produtos ou serviços são oferecidos no bairro;
05. Analise seus concorrentes;
06. Humanize o atendimento de seu negócio: não importa o porte ou o ramo de negócio;
07. Apresentação de seu estabelecimento, funcionários treinados e atentos a todos os detalhes. Os detalhes vendem e agregam valor;
08. Venda confiança;
09. Tudo isso combinado vai levar o empresário a criar estratégias criativas e o faturamento será uma consequência. O preço não é fundamental.
10. Venda o que as grandes redes varejistas não vendem;
11. Outros fatores de ordem gerencial.
12. Além disso, lojas menores, menores espaços, menos funcionários, menos aluguel, menos custos fixos, deixam a empresa mais competitiva.
Fonte: Wanderlan Barreto da Rosa

O que fazer para que o Centro volte a ter mais força?

Quem conhece Rondonópolis há muito tempo sabe que o Centro já foi bem mais movimentado, tendo perdido um pouco de força nos últimos anos. Durante a pandemia, o número de espaços ociosos nessa área chamou a atenção, mas felizmente vem atraindo novamente importantes empreendimentos e mais interessados em investir ali.

O professor avalia que todos querem a revitalização do Centro, não só atraindo as pessoas para compras, mas recebendo visitantes de outras cidades. Contudo, além das ruas especializadas que vão surgindo a cada dia mais, Rondonópolis se depara com alguns gargalos muito fortes, como relacionados ao trânsito.

Revitalização do Centro, para atração de mais e novos consumidores, é uma das cobranças atuais

“Não temos estacionamento disponível. Enquanto não se encontrar uma solução para esta questão, nós não vamos atrair pessoas, vamos ter afastamentos, e as lojas do Centro estão se vendo obrigadas a irem para os bairros, jogando contra si mesma. Em datas especiais, as ruas ficam abarrotadas de carros andando porque não acham onde estacionar. A meu ver este é um problema muito sério”, pontua o professor Wanderlan Barreto da Rosa.

Outra questão a ser resolvida é falta de segurança. O especialista diz que, embora a Policia Civil tenha dado um apoio muito grande, mesmo assim, as pessoas sentem-se inseguras. Ele reforça ainda a existência de lojas pouco atrativas. “Temos que ser justos, algumas lojas fizeram um upgrade legal, melhoraram fachadas, deram um colorido mais dinâmico, internamente se reinventaram, mas ainda tem muita loja com visão do passado. Querem vender, não se dão conta que o cliente não tem pressa de comprar, ele só quer ser visto, valorizado, reconhecido”, alerta.

Não se pode esquecer ainda a imagem até certo ponto negativa do Centro da cidade. “Muitos vendedores ambulantes nas calçadas empurrando produtos como se estivéssemos numa feira livre, os passeios cheios de vendedores, carrinhos carroças, cadeiras, e muito mais… Nada contra as pessoas que estão trabalhando honestamente, mas para o comércio central isso denota descuido, relaxamento, competição desigual. Para esses comerciantes ambulantes, deveria existir uma área organizada, protegida, compartilhada, com ruas internas para os transeuntes andarem, poderem olhar os produtos e efetuarem suas compras. Há ainda sons estridentes que as vezes até irritam as pessoas, gêneros musicais diversos”, lamenta o consultor.

Wanderlan entende que a área central da cidade precisa de um olhar futurista, varejo 5.0: lojas inovadoras, prédios bem elaborados, calçadas reconstruídas, padronizadas, parelhas, sem vendedor ambulante, variedade de produtos distintos e de qualidade, equipe de funcionários treinada e bem uniformizada, trabalhando focada “na visão Rondonópolis 2030”.

É preciso apostar em novidades

Até a antiga ideia de se criar um calçadão no Centro de Rondonópolis é lembrada pelo professor e consultor Wanderlan Barreto, que, em sua concepção, acredita ser viável algo nesse sentido, fechando metade da Avenida Amazonas, criando a área de passeio, com espaços para quiosques de alimentação, no trecho iniciando-se na Rua Rio Branco e se estendendo até a Rua Arnaldo Estevão.

Várias ações projetando um calçadão para o Centro já foram articuladas, mas nenhuma saiu do papel até hoje

O professor avalia ainda que as duas praças do Centro, tanto a Praça dos Carreiros quanto a Praça Brasil, precisam de um cuidado diferenciado, uma zeladoria, incrementadas com atrativos, de tal modo que as famílias possam desfrutar, com crianças brincando, jovens e idosos conversando ou lendo um bom livro, espaço para artistas locais promoverem shows musicais, feira de arte, e até mesmo um local para as lojas promoverem desfiles de roupas e calçados, enquanto os demais visitam as lojas modernas 5.0. “Eu acredito num projeto bem definido nessa linha”, sinaliza.

Nisso tudo, Wanderlan afirma que o poder público precisa querer fazer uma revitalização do Centro, e chamar arquitetos para proporem inovações para a área central. “Eu entendo que há soluções boas, a questão é saber quem está disposto a investir numa mudança para melhor. Ganha o empresário, ganha o consumidor, ganha a economia. Estou falando da Avenida Amazonas, porque é a artéria principal da área central de Rondonópolis”, sugere.
“Nós recebemos muitos visitantes durante o ano, então eu preciso investir para esse público, para o público que gosta de vir comprar no Centro e aquele que não vai sair da região, mas mora aqui nas redondezas. Então vejo que tem solução. Mas há vontade, queremos revitalizar o Centro ou está bom assim? Hoje está muito feio, sujo, apertado!”, arremata.

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