Muitos rondonopolitanos nunca chegaram a ver o trem da ferrovia e seus trilhos, mas é desse investimento que Rondonópolis tem visto sua arrecadação municipal saltar nos últimos anos, bem como o valor da sua produção e das suas riquezas vem chamando a atenção, consolidando-se como as 100 maiores economias municipais do Brasil.
As estimativas são de que o terminal ferroviário, localizado na saída para Campo Grande e atualmente administrado pela Rumo, seja responsável por mais de 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) de Rondonópolis. Neste ano de 2023, o orçamento da Prefeitura de Rondonópolis é de aproximadamente R$ 2,1 bilhões, valor que quase quadruplicou em relação ao ano de 2013, quando era de R$ 538 milhões.
E tem sido o terminal ferroviário de Rondonópolis e sua maior utilização o responsável pela crescente arrecadação do Município nos últimos anos. Ao mesmo tempo, principalmente devido a pandemia, a maioria dos municípios brasileiros se deparou com dívidas e dificuldades para honrar seus compromissos.
A implementação do terminal em 2014 e sua posterior expansão possibilitou um incremento do valor adicionado (VA) municipal, gerando consecutivos aumentos do índice que estipula o valor de repasse que o município recebe referente à arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).
Da mesma forma, a arrecadação do ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) se expandiu por razão das operações logísticas realizadas a partir do terminal ferroviário. Inclusive, o terminal ferroviário recebeu os grandes investimentos que Rondonópolis teve na última década, como a indústria de fertilizantes Andali, a indústria de processamento de soja da Cofco, a unidade de transbordo rodoferroviário e armazenamento de fertilizantes da Ono Logística, entre outros.
Também no terminal ferroviário Rondonópolis recebeu bases das empresas Raízen, Ipiranga e Teciap (bandeira branca). A base da Petrobras, que seria a maior delas, está com a construção suspensa desde as denúncias da Lava Jato. Assim, a cidade se tornou um importante centro de distribuição de combustíveis para a região Centro-Oeste.
Nos últimos anos, o complexo teve ainda a consolidação de um projeto de ampliação. Ao todo foram investidos cerca de R$ 206 milhões em novas estruturas no terminal. A capacidade de armazenamento passou de 45 mil toneladas para 120 mil toneladas. Foram instaladas três tulhas extras e construída uma nova linha ferroviária, possibilitando um aumento de 60% nas operações de carregamento de vagões, passando de 900 para 1.400 vagões por dia.
O terminal ferroviário, na verdade, virou um novo distrito industrial no município. Entre próprios e prestadores de serviços, a estimativa é que o terminal ferroviário gere atualmente cerca de 3 mil empregos. Ali recebe até 1.800 caminhões por dia com volume anual de 18 milhões de toneladas. É desse complexo que parte o escoamento de quase metade da safra mato-grossense para o porto de Santos.
Diariamente são mais de 80 mil toneladas de soja embarcadas no maior terminal de grãos da América Latina, em Rondonópolis.“É um modelo operacional consolidado e extremamente eficiente. O desenvolvimento que acompanhamos em Rondonópolis, chegará no futuro a outras regiões conforme avançarmos com as obras da nova ferrovia de Mato Grosso”, destaca o diretor comercial da Rumo, Altamir Perottoni.
Rondonópolis também está sendo beneficiada no momento com a expansão dos trilhos da ferrovia rumo ao norte de Mato Grosso, em um investimento total superior a R$ 14 bilhões.O projeto prevê mais de 700 quilômetros de extensão ferroviária, passando por 16 municípios, incluindo Campo Verde e Nova Mutum. As obras da expansão da ferrovia contarão com 22 pontes, 21 viadutos, cinco passagens inferiores, aproximadamente dois quilômetros de túneis e um total de 108 mil toneladas de trilhos.
Na verdade, serão dois ramais, um ligando Rondonópolis até Cuiabá e outro ligando Rondonópolis até Lucas do Rio Verde. O terminal em Campo Verde deverá ser concluído até dezembro de 2025; o terminal de Cuiabá, em junho de 2026; o de Nova Mutum, em dezembro de 2027; e o de Lucas do Rio Verde, em dezembro de 2028.
Neste primeiro semestre de 2023, a empresa iniciou em Rondonópolis as obras de terraplanagem e drenagem dos primeiros 211 quilômetros previstos até Campo Verde. Segundo a Rumo, as obras da nova ferrovia foram projetadas em módulos. Para essa primeira fase, estão previstos mais de 200 quilômetros, chegando até Primavera do Leste e Campo Verde, região onde será instalado um terminal.
O projeto foi concebido a quatro mãos com o governo de Mato Grosso, levando em conta também o plano rodoviário do Estado. “Hoje, trabalhamos com um cronograma referencial, uma vez que todas as etapas da construção envolvem licenciamento ambiental e aspectos diversos ligados a infraestrutura e engenharia. Até o momento, a Rumo obteve três autorizações de Licença de Instalação (LI) que somam 180 quilômetros até Primavera do Leste”, explicou a empresa para a Revista Cidade Mob.
Neste primeiro semestre de 2023, a empresa concluiu as obras do primeiro viaduto ferroviário que cruza a BR-163, nas proximidades do terminal de Rondonópolis. No segundo semestre, os trabalhos serão concentrados nas obras de terraplanagem einício dos demais viadutos. Uma ponte ferroviária sobre o Rio Vermelho será construída em Rondonópolis. Em relação a obra da ponte do Rio Vermelho, o cronograma ainda será estruturado.
O investimento no trecho entre Rondonópolis e Campo Verde ficará entre R$4 bilhões e R$4,5 bilhões, com previsão de que as operações ferroviárias iniciem efetivamente em 2026. A capacidade instalada nesse trecho ficará entre 32 milhões e 35 milhões de toneladas por ano. Depois, em Nova Mutum, será construído o segundo maior terminal ferroviário no estado, perdendo apenas para o de Rondonópolis.
Para Altamir, a construção da nova ferrovia é essencial para que o setor logístico acompanhe o avanço da produção agrícola projetado para Mato Grosso. “Chegar até Lucas do Rio Verde representará mais eficiência e menos custos para o produtor. É uma obra robusta e um projeto transformacional para o Estado de Mato Grosso”, afirma.
Algodão de Mato Grosso transportado pela ferrovia
Que o estado de Mato Grosso é campeão nacional em produção de algodão muita gente já sabe. Agora o que muita gente não sabe é que nos últimos anos têm sido cada vez maior o percentual da produção estadual de pluma transportada a partir de Rondonópolis até o Porto de Santos (SP) por meio da ferrovia, em contêineres.
A estimativa da consultoria AgRural é de que a produção de algodão em pluma do Brasil na safra 2022/23 – que está começou a ser colhida em agosto – chegue em 3,010 milhões de toneladas. O número representa um crescimento de 18% em relação à safra passada e é novo recorde para o país.
Beneficiada por condições climáticas mais favoráveis, a produção de algodão em Mato Grosso, segundo a consultoria, deve ser de 2,119 milhões de toneladas nesta safra atual, cerca de 70% da produção do país. Em relação à safra passada, o aumento é de 20%.
Nesse cenário, o diretor comercial da Brado, Daniel Salcedo, estima que a empresa já é responsável pelo transporte em contêineres de mais de 30% da produção de algodão destinada para exportação em Mato Grosso. Na safra 21/22 a participação nesse mercado de algodão foi de 18%. “Acredito que temos muito a crescer em Mato Grosso”, projetou.
Esse aumento vem ocorrendo ao passo que os produtores e as tradings vêm percebendo as vantagens da multimodalidade. “O nosso diferencial é uma solução muito mais limpa, sustentável, mais segura e com grande competitividade, para que o produtor possa trazer o produto mais próximo da sua origem e colocar na ferrovia, chegando ao Porto de Santos”, explicou Daniel.
Dentro da sustentabilidade, a operação multimodal com base ferroviária traz benefícios ao meio ambiente por reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Durante a segunda edição do Cotton Day, evento que reuniu em Rondonópolis os representantes do setor algodoeiro antes do início da safra, o diretor de operações da Brado, Luciano Johnsson, projetou que nesta safra os produtores deixarão de emitir mais de 53 mil toneladas de CO2 com o transporte ferroviário, o correspondente à emissão de 11,4 mil veículos.
A busca pelo transporte da pluma em contêineres pela ferrovia também vem garantindo segurança nas estradas, com menos acidentes rodoviários, e segurança das cargas, com redução de perdas de cargas no transporte, de furtos e roubos e em acidentes. Também propicia maior integridade da carga, com menos chance de chegar suja ou avariada do que pelo transporte rodoviário. Além de tudo isso, não se pode esquecer a competitividade de custos a ser avaliada.